Teatro
Brasil
16 anos
180'
Na conversa do diretor Felipe Hirsch com Tom Zé, publicada no programa da peça, o cantor e compositor baiano conta uma de suas saborosas histórias: “Dizem que aos dois anos é a fase que você mais aprende na vida. Você nunca mais aprende como você aprende aos dois anos; olha que coisa maluca! Você não fala a língua da tribo e você tá aprendendo?! Quer dizer, têm línguas que são línguas… Tem línguas que Deus… O amor, por exemplo, que língua é essa?”, ri.
Quatro páginas adiante, o artista de 85 anos diz que quando se fica velho “tem algumas coisas que vão se diluindo, mas na paixão que eu tomei por essa peça, eu virei criança outra vez!”. E coroa linhas adiante: “É uma glória da minha velhice”.
Criada a partir da música homônima do disco “Imprensa Cantada” (2003), “Língua Brasileira” traz canções inéditas de Tom Zé sob dramaturgia do Coletivo Ultralíricos, Hirsch, Juuar e Vinícius Calderoni.
Seis atuantes e quatro músicos dão a ver e ouvir a epopeia dos povos que formaram o português falado no Brasil, seus mitos e cosmogonias, passando pelas remotas origens ibéricas, por romanos, bárbaros e árabes, pela África e a América Nativa.
A montagem passeia pelo inconsciente de nossa língua, suas graças e tragédias, seu “esplendor e sepultura”, paradoxo presente em verso do poema de Olavo Bilac (1865-1918) que leva o mesmo nome do espetáculo.
Segundo Hirsch, o país possui, hoje, quase 200 línguas em extinção, sendo mais de uma dúzia delas faladas por pouca gente; três, quatro pessoas originárias. “E, no entanto, o Brasil está aprendendo a entender um pouco disso, do esplendor da mistura dessa língua, e da sepultura. Essa perpetuação da escravidão, o extermínio de povos nativos indígenas, e várias línguas consumidas por isso”, diz, situando que não se trata de peça didática, tampouco de tese, mas poética.
Prevista para estrear em março de 2020 e adiada a sete dias da data, por conta da pandemia, a temporada transcorreu de janeiro a março de 2022, no Teatro Sesc Anchieta, na capital.
Quem são
Em 2013, o Coletivo Ultralíricos ganha corpo com o projeto “Puzzle” em três partes, (a), (b) e (c), criado para a participação brasileira na Feira do Livro de Frankfurt. No ano seguinte, a quarta parte da série, (d), abre a edição do Mirada. “A Tragédia e Comédia Latino-Americana” (2015), em duas partes, e “Selvageria” (2017) compõem a Trilogia Involuntária, um mergulho na literatura latino-americana. Em 2019, é a vez de “FIM”, texto do argentino Rafael Spregelburd. “Língua Brasileira” (2022), por sua vez, aprofunda investigações sobre questões nacionais.
Ficha técnica
Uma peça dos Ultralíricos e Tom Zé
Direção geral Felipe Hirsch
Música e letras Tom Zé
Elenco Amanda Lyra, Danilo Grangheia (Gui Calzavara), Georgette Fadel, Josi Lopes, Pascoal da Conceição e Rodrigo Bolzan
Direção musical Maria Beraldo
Músicos Biel Basile, Fernando Sagawa, Ivan Gomes e Luiza Brina
Músicos (em alternância) Gustavo Sato, Cuca Ferreira, Gabriel Basile e Daniel Conceição
Diretora assistente Juuar
Dramaturgia Ultralíricos, Felipe Hirsch, Juuar e Vinícius Calderoni
Dramaturgista/consultor geral Caetano Galindo
Direção de arte Daniela Thomas e Felipe Tassara
Iluminação Beto Bruel
Figurino Cássio Brasil
Design de som Tocko Michelazzo
Preparação vocal Yantó
Design de vídeo Henrique Martins
Difusão internacional Ricardo Frayha
Direção de produção Luís Henrique Luque Daltrozo