CÁRCERE ou Porque as Mulheres Viram Búfalos
Companhia de Teatro Heliópolis
Teatro
Brasil
12 anos
120'
Segundo o Departamento Penitenciário Nacional (Depen), o Brasil conta 820.689 pessoas privadas de liberdade, sendo 673.614 em celas físicas e 141.002 em prisão domiciliar. Os dados são de julho de 2021. Estatísticas podem refletir invisibilidades. Em dias de visita, filas em presídios masculinos são formadas por mães, avós, irmãs, tias, namoradas – em sua maioria pobre, preta e periférica. O pacto incondicional delas para com os seus é inversamente proporcional à frequência de visitantes nas penitenciárias femininas.
Esse é um dos aspectos subjacentes em “CÁRCERE ou Porque as Mulheres Viram Búfalos”, parceria inédita da Companhia de Teatro de Heliópolis com a dramaturga convidada Dione Carlos, artistas cujas trajetórias sincronizam passos nos campos estético, social, histórico e político.
O título alude às mulheres “que transmutam as energias de violência e morte e reinventam realidades”, afirma a autora, que trabalhou em colaboração com o elenco, o diretor Miguel Rocha e demais criadores.
Partindo da história das irmãs gêmeas Maria dos Prazeres e Maria das Dores, cujas vidas são marcadas pelo encarceramento dos parentes, a peça aborda a forte presença das mulheres nesse contexto. Elas veem abaladas a vida emocional, a segurança física e a situação financeira. “A mulher se torna a força e o sustentáculo da família, e também daquele que está em situação de cárcere”, diz Rocha.
A ancestralidade está presente no texto e permeia a encenação de forma arquetípica. O coro aparece tanto como uma representação da coletividade quanto um exercício da voz ancestral, cujos saberes resistiram à barbárie e atravessaram séculos por meio dos corpos, memórias e crenças das pessoas africanas que, escravizadas, fizeram a travessia do Atlântico.
Evocando o orixá feminino Iansã-Oyá, divindade das tempestades, raios e ventos, no candomblé e na umbanda, o espetáculo elabora ações físicas para construir um discurso poético e expressionista das relações de poder, com uma imersão potencializada pela música ao vivo.
Quem são
A obra exibida no Mirada é a 12ª na trajetória da Companhia de Teatro Heliópolis, forjada desde 2000 na favela homônima, zona sudeste da capital paulista. Parte dos integrantes tem origem nordestina e irradia memórias em diálogo com os anseios e as vivências do território. Vide “Medo” (2016), “Sutil Violento” (2017) ou “(In)justiça” (2019). Desde 2010, ocupa a Casa de Teatro Maria José de Carvalho, no bairro vizinho Ipiranga, sob permissão de uso do Estado.
Ficha técnica
Encenação Miguel Rocha
Assistência de direção Davi Guimarães
Texto Dione Carlos
Elenco Antônio Valdevino, Dalma Régia, Danyel Freitas, Davi Guimarães, Isabelle Rocha, Jefferson Matias, Jucimara Canteiro, Priscila Modesto e Walmir Bess
Direção musical Renato Navarro
Assistência de direção musical César Martini
Musicistas Alisson Amador (percussão/ percussion/ percusión), Amanda Abá (violoncelo/ cello), Denise Oliveira (violino/ violin/violín) e Jennifer Cardoso (viola)
Cenografia Eliseu Weide
Iluminação Miguel Rocha e Toninho Rodrigues
Figurino Samara Costa
Assistência de figurino Clara Njambela
Costureira Yaisa Bispo
Operação de som Lucas Bressanin
Operação de luz Viviane Santos
Cenotecnia Wanderley Silva
Provocação vocal, arranjos e composição da música do “manifesto das mulheres” Bel Borges
Provocação vocal, orientação em atuação-musicalidade e arranjos – percussão “chamado de Iansã” e poema “Quero ser tambor” Luciano Mendes de Jesus
Estudo da prática corporal e direção de movimento Érika Moura
Provocação teórico-cênica Maria Fernanda Vomero
Provocação cênica Bernadeth Alves, Carminda Mendes André e Maria Fernanda Vomero
Comentadores Bruno Paes Manso e Salloma Salomão
Mesas de debates Juliana Borges, Preta Ferreira, Roberto da Silva e Salloma Salomão, com mediação Maria Fernanda Vomero
Orientação de dança afro Janete Santiago
Direção de produção Dalma Régia
Produção executiva Davi Guimarães e Miguel Rocha