Viagem a Portugal, última paragem ou o que nós andámos para aqui chegar
Teatro do Vestido
Teatro
Portugal
12 anos
70'
Gênero literário secular, a narrativa de viagem transita entre o relato factual e a ficção, conforme o contexto histórico, o manejo da linguagem e o objetivo de quem escreve.
“Afinal, que viajar é este?”, pergunta José Saramago (1922-2010) no livro cujo título o “Viagem a Portugal” empresta nome ao espetáculo do coletivo. Foi uma das motivações para que seus integrantes olhassem pelo retrovisor o caminho que os trouxe até ali , bem como a seus familiares, mostrando, consequentemente, a história do povo português. Também nortearam a pesquisa o conto “A Viagem”, da poeta Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004), e a circulação pelo interior de Portugal durante meses no ano da estreia, 2019.
“Que heranças de 48 anos de ditadura aí perduraram ou perduram? Quando se deram os saltos de mobilidade social que nos fizeram reunirmo-nos enquanto equipe na capital do país, todos detentores de cursos superiores, ao contrário das gerações que nos antecederam? Que Portugal é este que habitamos e de onde vimos?”, questiona Joana Craveiro, que assina texto e direção.
Com três intérpretes mais encarregados diretamente da narrativa, uma quarta na manipulação de documentos e vídeo em tempo real, assim como um quinto como compositor que pulsa a trilha ao vivo, o trabalho faz do arquivo um dispositivo cênico ao qual confere materialidade poética.
Foto, texto, música, correspondência e toda sorte de fontes rememoram dores e lutas que falam de direitos, de injustiças e de convicções humanistas em períodos como os da ditadura (1926-1974) e da Revolução dos Cravos (1974-1975).
Há um montar/desmontar, um encaixar/desencaixar na contrarregragem realizados pelos atuantes e demais artistas nos bastidores. Dinâmica afeita à natureza da linha do tempo dos acontecimentos narrados, afetados e comprimidos nas possibilidades de uma peça.
Como Craveiro declarou à jornalista Maria João Guardão, por ocasião de outra produção, “Juventude Inquieta” (2021), “o nosso é um processo que fica impresso no corpo, fica impresso na cena, fica impresso na escrita”. Para a diretora, portanto, não interessa “só contar a história”, mas “que o processo esteja em cena também”.
Quem são
O coletivo Teatro do Vestido foi fundado em 2001. Pauta-se pela pesquisa e experimentação, bem como pelo desenvolvimento de uma dramaturgia original. Caracteriza-se ainda por uma forte relação com espaços de apresentação variados, sejam urbanos ou rurais. E com iniciativas que visam a criação de uma comunidade de espectadores atentos e implicados na reflexão acerca da realidade. Um trabalho em colaboração, sob direção artística de Joana Craveiro (1974).
Ficha técnica
Texto e direção Joana Craveiro
Cocriação e interpretação Estêvão Antunes, Simon Frankel, Tânia Guerreiro e Mafalda Pereira
Vídeo e imagens (originais, reproduções, slides) João Paulo Serafim
Cenografia Carla Martinez
Figurinos Tânia Guerreiro
Música (composição e interpretação) Francisco Madureira
Assistência, interpretação, manipulação de documentos, vídeo em tempo real Mafalda Pereira
Desenho de luz Cristóvão Cunha
Coordenação técnica Leocádia Silva
Operação de luz Rodrigo Lourenço
Técnico de vídeo João Pedro Leitão
Direção de produção Alaíde Costa
Produção no Brasil Corpo Rastreado
Apoio Fundação Calouste Gulbenkian, FX Road Lights
Coprodução Teatro do Vestido e Teatro Viriato
Teatro do Vestido é financiado por República Portuguesa – Cultura | Direcção-Geral das Artes