Teatro
Equador
12 anos
60'
O geógrafo baiano Milton Santos (1926-2001) possuía uma visão de mundo de absoluta confiança na humanidade e, muito especialmente, “nos homens pobres e lentos do planeta”, como costumava dizer e escrever, segundo lembra a professora Maria Adélia Aparecida de Souza (USP).
No texto “O Retorno do Território” (1994), Santos pondera que “aquela máxima do direito romano, ubis pedis ibi patria (onde estão os pés aí está a pátria), hoje perde ou muda seu significado. Por isso também o direito local e o direito internacional estão se transformando, para reconhecer naqueles que não nasceram num lugar o direito de também intervir na vida política desse lugar”.
Em “QUIMERA”, o grupo equatoriano La Trinchera propõe uma moldura fabular para pensar noções de pátria, como aquela que supõe salientar o território nacional. O conflito fictício e microscópico desenhado pelo dramaturgo e diretor Nixon García Sabando permite dimensionar a história universal por dizer respeito à geopolítica da guerra e da violência, ainda que não se derrame um pingo de sangue cênico.
Em algum tempo ou espaço, dois soldados fronteiriços se encontram fortuitamente numa manhã, após deixarem os respectivos postos de vigilância e notarem que a demarcação da faixa limítrofe daquelas terras simplesmente desapareceu. Desconfiados e armados, movimentam-se de forma simétrica, cada qual nos respectivos lados do palco, um país à esquerda e outro à direita. Até que se aproximam e se tocam. O susto os desarma para a prosa.
Partilham de profunda solidão, já que há anos não viam e não falavam com ninguém, condicionados apenas ao dever de defenderem-se contra inimigos.
O repentino aparecimento de dois artistas ambulantes, uma sábia e um jovem, abre uma brecha para o controle de acesso a imigrantes. A dupla entretém os homens fardados com evoluções circenses e musicais, mas logo será lembrada de que precisa apresentar um passaporte para ficar ali ou partir. Afinal, ela veio de Quimera, lugar que, como a ilusão, pede imaginá-lo para que exista.
O hino e a bandeira parecem ter perdido significado para os esquecidos guardas da linha divisória. E o Narrador, à espreita, canta o sentimento de pertencer: “Qual é o Norte, qual é o Sul, qual a fronteira entre a sombra e a luz? Qual Quimera um dia habitei?”.
Quem são
Criado em 1982, na cidade portuária de Manta, estado de Manabí, no Equador, o Grupo de Teatro La Trinchera passa a contar com apoio da Universidad Laica Eloy Alfaro em 1985. Três anos depois, cria o Festival Internacional de Teatro de Manta em parceria com a instituição. Em 1996, abre sua escola de teatro para crianças e adolescentes.
Ficha Técnica
Dramaturgia e direção Nixon García Sabando
Elenco Rocío Reyes Macías, Freddy Reyes Macías, Pablo Chávez Zambrano e Hernán Reyes Parrales
Assessoria e composição musical Rainer Christian Rosenbaum
Design de luz Hernán Reyes P.
Figurino José Rosales
Cenografia José Rosales e La Trinchera
Adereços Cesar Pilay e La Trinchera
Operadora de som Angélica Reyes P.
Operador de luz Gerson Guerra
Fotografia Leiberg Santos
Produção no Brasil Circus produções – Guto Ruocco e Caroline Zitto