Teatro
Portugal
12 anos
90'
13 set ∙ Terça ∙ 22h00
Teatro Guarany14 set ∙ Quarta ∙ 20h00
Teatro GuaranyVãos ou valas intergeracionais são mais profundos em sociedades impactadas por ditaduras militares sob cumplicidade de civis. Olhar a história nos olhos é a que se propõe o criador André Amálio e a equipe embarcada na companhia Hotel Europa em mais um passo de suas andanças com o teatro documental.
Em “Os Filhos do Mal”, Rita, João Carlos, Ana, Paulo e Ana Rita não são artistas cênicos. Estudaram e trilharam veredas outras. Antes, são bisnetos, netos, sobrinhos e filhos de presos políticos ou de louvadores de autocratas. Nasceram nas décadas de 1970, 1980 e 1990 e cresceram depois do 25 de abril de 1974, a Revolução dos Cravos, que pôs fim à longa noite fascista de mais de quatro décadas do regime salazarista.
A criação parte do conceito de pós-memória, definido pela pesquisadora Marianne Hirsch, romena radicada nos Estados Unidos, no seu livro “The Generation of Postmemory” (2012): a “relação que a geração seguinte tem com o pessoal, coletivo e trauma cultural daqueles que vieram antes – experiências que são lembradas apenas através de histórias, imagens e comportamentos daqueles com quem cresceram”.
Que memórias lhes foram transmitidas desse passado?
Encontradas através do processo de recolha de depoimentos, pessoas reais representam suas próprias histórias direta ou indiretamente afetadas pelos laços consanguíneos. A qualidade do que é factual provém das lembranças e revisões na vida adulta. Uma das participantes só veio a saber mais acerca da tortura do pai ao assistir a um vídeo postado em rede social. Tema tabu.
Fotografias exibidas em retroprojetor, pequenos trechos de vídeos e um sem-número de documentos dão ao material um quê de crítica genética, campo da literatura relativo à escavação do processo de escrita e que pode ser aplicado a outras linguagens.
Há margens para o lirismo, por exemplo, quando se compartilha o bastidor da gravação de “Grândola, Vila Morena”, canção-símbolo de Zeca Afonso no levante popular de 48 anos atrás. E para o drama intermitente, quando um intérprete se resigna: “O mal é a tua família não ter orgulho em ti por teres feito a revolução”.
Quem são
Hotel Europa é uma companhia formada por André Amálio (Portugal) e Tereza Havlíčková (República Tcheca). Desenvolve espetáculos de teatro documental que exploram as fronteiras entre teatro, dança e performance. Para tanto, utiliza-se da sobreposição de material autobiográfico, narrativas familiares, histórias nacionais, testemunhos, entrevistas e pesquisa historiográfica. “Os Filhos do Mal” (2021) é o segundo capítulo de um ciclo que começou em 2019 com “Os Filhos do Colonialismo”.
Ficha técnica
Criação André Amálio
Cocriação e movimento Tereza Havlíčková
Assistente de criação Cheila Lima
Interpretação Ana Rita Ferreira, Ana Sartóris, Cheila Lima, João Esteves, Paulo Quedas e Rita Tomé
Cenografia Sara Franqueira
Criação musical Pedro Salvador
Desenho de luz e operação Joaquim Madaíl
Produção executiva Maria João Santos
Produção Hotel Europa
Coprodução São Luiz Teatro Municipal
Fotografia Estelle Valente
Produção no Brasil Szpektor & Corrêa Produções Artísticas
Agradecimentos Rui Simões, Vitor Lima, Bombeiros Voluntários de Pinhal Novo e a todos os familiares dos intérpretes deste espetáculo que generosamente partilharam a sua história.