Teatro
Argentina
16 anos
70'
Em uma oficina ministrada a artistas cênicos profissionais na Espanha, em setembro de 2021, intitulada “Yo Es un Corpo” (“Eu É um Corpo”), a performer, dramaturga e diretora Marina Otero definiu sua estrutura física e individualizada como “um arquivo em que se acoplam imagens, histórias, gestos inconscientes, enfermidades, apropriações, instantes… Tudo o que não é dito, o que está ausente e até o que a memória não registra está aí, sobre ou sob a carne. Ausências que se tornam matéria e que, mais cedo ou mais tarde, se evidenciam”.
A assertiva pode servir de introdução ao pensamento sobre arte da argentina que traz “Fuck Me” (2020), terceira parte da série Recordar para Vivir, iniciada uma década atrás.
Uma fala do trabalho atual soa motora : “Sempre me imaginei ocupando o centro da cena como uma heroína, vingando-me de todos e tudo. Mas o corpo não deu para tanta batalha. Hoje, deixo meu lugar para os intérpretes. Vou ver como eles emprestam seus corpos à minha causa narcisista”. Na concepção original, ela seria protagonista, como o fez nas duas peças anteriores, “Andrea” (2012) e “Recordar 30 Años para Vivir 65 Minutos” (2015-2020). Mas um problema físico a tirou de cena, obrigando-a a modificar o formato que desejava. Cinco atuantes masculinos tomaram seu lugar, submetendo-se às indicações de uma diretora ressentida, como diz o material de divulgação. Optou então por contracenar em vez de solar.
Para projetar as marcas inscritas no corpo e a incontornável passagem do tempo, o projeto estético transita pelas bordas entre o documental e a ficção, a dança e a performance, o acidente e a representação.
Na segunda peça da mencionada série, a criadora compartilha um depoimento revelador das inquietudes em sua trajetória: “Não sou bailarina, não sou atriz, não sou coreógrafa, não sou escritora. Sou uma caprichosa que faz tudo isso para saber para que vim ao mundo. Parece que o mundo real é ficção e a ficção, uma remota possibilidade de encontrar-se”.
Quem é
Diretora, intérprete, autora e docente, Marina Otero nasceu em Buenos Aires. Desde 2012 realiza o projeto Recordar para Vivir, baseado em construir uma obra inacabável a partir de referências autobiográficas. Alguns de seus espetáculos foram levados a países como Singapura, Suíça, Sarajevo, Espanha, Itália, França, Peru e Chile. “Fuck Me” obteve o prêmio do público na edição de 2021 do Theater Spektakel, festival realizado em Zurique. No semestre passado, a artista estreou o solo “Love Me” no Festival Internacional de Buenos Aires (Fiba).
Ficha técnica
Dramaturgia Marina Otero
Elenco Augusto Chiappe, Cristian Vega, Fred Raposo, Matías Rebossio, Miguel Valdivieso e Marina Otero
Projeto de iluminação e espaço Adrián Grimozzi
Espaço e iluminação em circulação/direção técnica David Seldes e Facundo David
Figurinos Uriel Cistaro
Edição digital e música original Julián Rodríguez Rona
Consultoria de dramaturgia Martín Flores CárdenasAssistência de direção Lucrecia Pierpaoli
Assistência coreográfica Lucía Giannoni
Assistência de iluminação e espaço Carolina Garcia Ugrin
Artista visual Lúcio Bazzalo
Montagem técnica audiovisual Florencia Labat
Estilo de figurino Chu Riperto
Fotografia Matías Kedak
Figurinista Adriana Baldani
Produção e produção executiva Mariano de Mendonça
Distribuição T4/Maxime Seugé & Jonathan Zak
Coprodução Festival Internacional de Buenos Aires (FIBA)
Coordenação técnica no Brasil Bruno Garcia
Assistente de produção no Brasil Carla Gobi e Claudia Torres
Assessoria Jurídica no Brasil Martha Macruz de Sá
Produção no Brasil Pedro de Freitas – Périplo