Teatro
Chile
16 anos
80'
A abordagem sócio-histórica é um traço comum nos trabalhos do dramaturgo e diretor chileno Guillermo Calderón. Ele olha para o passado e o aproxima do presente com a lupa da arte. O teatro como atividade de movimento político, ciente de suas limitações, reconhece aquele que é um dos expoentes da cena do país na última década e meia.
Em “DRAGON”, por exemplo, citações ao historiador Walter Rodney (1942-1980), da Guiana, e ao diretor Augusto Boal (1931-2009), do Brasil, são chaves na narrativa. Negro, Rodney foi um pan-africanista, estudioso e ativista político. Vítima de atentado a bomba, em 1980, aos 38 anos, legou “Como a Europa Subdesenvolveu a África” (1972), dentre outros livros.
Boal, possivelmente a personalidade teatral brasileira mais conhecida no exterior, ideou as técnicas do teatro do oprimido, dentre elas a do teatro invisível, que versa sobre ações não teatrais, em espaço público, com temas urgentes no contexto daquela comunidade. De maneira que os atuantes, sem que os pedestres saibam que fruem artes cênicas, possam expor assuntos relegados à sombra.
Ambas as lutas subsidiam passagens do enredo. Nele, um coletivo de arte, de nome Dragón, elabora táticas e estratégias para criar seu novo trabalho, uma instalação. Os encontros do trio – ou dupla, a conferir – acontecem periodicamente no restaurante Plaza Italia, na região central de Santiago.
Seus integrantes elegem um tema tão complexo que deságua em amargo conflito desagregador: a traição. O dilema entre falso e verdadeiro, em tempos de notícias falsas que elegem candidatos, serve à dissecação do sistema de artes, entre e para além das paredes das galerias. Todavia, pode ser demasiado tarde para restituir confiança.
O espetáculo de 2019, ano de manifestações populares chilenas contrárias ao aumento de tarifas nos transportes, como as jornadas de junho de 2013 no Brasil, desdobrou-se no documentário de curta-metragem “La Segunda Vida de un Dragón” (2020), com boa parte da mesma equipe.
As reivindicações mexeram nas bases da sociedade e conspiraram para a elaboração da nova Constituição, em curso, dita mais diversa e inclusiva. Essa voltagem política subjaz em cena.
Quem é
Dramaturgo, roteirista e diretor teatral, Guillermo Calderón escreveu e encenou, entre outras obras, “Neva”, “Diciembre”, “Clase”, “Villa”, “Discurso”, “Escuela” e “Mateluna”, programadas em festivais brasileiros de artes cênicas nos últimos 14 anos. Suas criações circularam por mais de 25 países. No cinema, roteirizou “Violeta se Fue a los Cielos”, “El Club” e “Neruda”.
Ficha técnica
Dramaturgia e direção Guillermo Calderón
Elenco Luis Cerda, Camila González e María Landeta
Assistência de direção e direção técnica Ximena Sánchez
Design Rocío Hernández
Técnica de iluminação e cenografia Manuela Mege
Figurino e assistência de design Daniela Vargas
Vídeos Alex Waghorn, La Copia Feliz e Ximena Sánchez
Produção María Paz González
Direção de produção no Brasil Rachel Brumana – SÙ
Produção executiva, comunicação e logística no Brasil Luiza Alves
Assistência de produção no Brasil Giovanna Monteiro
Coordenação técnica no Brasil Grazielli Vieira
Técnica de luz no Brasil Fernanda Guedella
Técnica de vídeo no Brasil Giovanna Kelly
Técnica de som no Brasil Lilla Stipp
Direção de palco no Brasil Carol Buček
Camareira no Brasil Arieli Marcondes
Coprodução Teatro a Mil Foundation, Teatro UC e Theater der Welt 2020 Düsseldorf
Apoio Ministerio de Relaciones Exteriores de Chile/DIRAC – Dirección de Asuntos Culturales del Ministerio de Relaciones Exteriores de Chile