A Serviçal vai passear 

NOTAS DA REDAÇÃO

“Será que alguém aqui pode me tirar dessa situação?” 

É com essa frase que Ana Flávia Cavalcanti inicia o solo-debate SERVIÇAL. Ela está dentro de um carrinho de bebê e veste roupas brancas, elementos de sua performance “A babá quer passear”. Ouvimos um áudio de sua mãe, que conta as experiências de uma vida dedicada ao trabalho de empregada doméstica. A atriz lê um anúncio de vaga de emprego de babá, com exigências que deveriam envergonhar qualquer pessoa. 

A frase que deu o início a este texto é pronunciada e o público sentado nas cadeiras não entende a solicitação. Continuam ali imóveis, há um tom de desconforto na plateia, até que algumas pessoas resolvem ajudá-la a sair de dentro do carrinho. A cena é performática, mas a ação das pessoas (ou a inércia momentânea destas) pode refletir como a nossa sociedade age diante de situações e temas tão urgentes. 

Essa pausa existe. A dor do outro leva tempo para ser assimilada e nos perguntamos em que momento a desconfiança sobressai diante de um legítimo pedido de ajuda. São esses segundos de embaraço, trazidos por nossa herança colonial que precisam ser revistos. A perversidade do racismo estrutural se apresenta nas mínimas ações e falas mascaradas que por vezes passam despercebidas.  

Em sua passagem pelo Mirada 2022, Ana Flávia Cavalcanti apresentou as performances “A babá quer passear” e “Serviçal”, que buscam provocar e abrir reflexões sobre as condições de trabalho das empregadas domésticas. Logo após as intervenções, ela bateu um papo com a gente que você pode assistir no vídeo abaixo.